Parabéns.
07/01/2017
Às vezes parece muito tempo, às vezes tão pouco.
07 de janeiro. Essa data se tornou tão importante de um ano
pra cá. Eu, muito orgulhosa de ser aquariana com ascendente em aquário, nascida
em 31, último dia mas não menos janeiro, não podia ter renascido em outro mês
que não esse. Nasci e nasci de novo nesse que é o meu preferido do calendário,
cheio de sol e de recomeços, marcado pela descontração e pela esperança de
tempos melhores.
Mas exatamente há um ano atrás vivi o dia de maior angústia
da vida. Foi ruim, foi realmente trágico. Fazer uma mastectomia não é algo
corriqueiro, acontecimento banal e cotidiano, é um exemplo de uma experiência limítrofe
e cujo impacto marca a gente em todos os sentidos, literalmente. No âmbito
físico, no psicológico, no emocional, e no espiritual, como não poderia deixar
de ser. Pois está tudo integrado, somos uma unidade, que a gente fragmenta só
para estabelecer níveis de descrição. Ou ao menos é o que deveríamos fazer, e
na vida “vivida” exercitar uma existência plena.
Reconhecendo isso ou não, não existe experiência que acometa
a gente e cujos efeitos se restrinjam a um único aspecto de nós. Por isso eu
tive que, após esse dia, depois da cirurgia feita, dar início a um processo de
cura que também foi holístico.
No início o enfoque é todo no físico, por que a recuperação é
lenta e os cuidados são extremos. Vem quimio, vem radio, vem medicação, é fazer
alguma coisa pra sanar outra e aí ter que lidar com os efeitos colaterais
desencadeados, parece que a gente não vai sair nunca desse ciclo em que
oscilamos entre avanços e retrocessos. Mas após um tempo passa a ser premente
cuidar também das sequelas subjetivas.
Foi realmente muita demanda, viu. E tem sido. Ainda dói.
Doem as cicatrizes do corpo e as da alma, tão recentes. Às vezes parece muito
tempo, às vezes tão pouco. Por que contei cada dia desse ano e desejei que
passasse, um a um, diferentemente de outras épocas em que vivia os dias no
piloto automático sem nem lembrar quem eu era, e aí eles voavam. Esses se arrastaram,
então pra completar um ano foi uma eternidade.
Só que quando consigo me afastar e ver um pouco minha vida
de longe percebo a (re)evolução que essa experiência desencadeou em mim, na
minha forma de ver o mundo, nas prioridades que elejo, no como lido com o
sofrimento. Aí parece que passou uma era. Outra eu.
A impermanência é a lei máxima, não conte com a estabilidade
que viver não se dá com base nisso. Você tá toda tranquila na sua zona de
conforto e daí vem a vida e te carrega. E nem sempre ela manda um aviso prévio,
você nem sempre tá preparado. A afirmação que faz Nilton Bonder num dos meus
livros preferidos, a Alma Imoral, é certeira: “a natureza mexe em time que está
ganhando”. A cada minuto que passa você já é outro você, mas tem coisas que
acontecem na nossa vida que aceleram esse processo de transformação.
Eu vivi uma dessas. E apesar de toda complexidade que
comentei, eu afirmo: foi uma oportunidade. Mas saiba, esse entendimento foi uma
construção, é gradativo, e não é simples. Ainda estou aprendendo a como fazer,
acho que seremos aprendizes pra sempre. Exige desapego e se colocar à
disposição do Universo, convicto de que o melhor sempre acontece, mesmo que não
lhe pareça agradável. Mais fácil seria usar isso como pretexto uma vida toda
pra não ir atrás do seu melhor, pense. E assim o faz muita gente. São escolhas,
e arcamos com suas consequências. Fiz a minha.
Depois de passado esse período eu ainda vivo o luto, ainda
enterro aquela Marina diariamente. Mas também vejo crescer e se desenvolver essa
nova, que só tem um ano mas já tem um ano, olhem só! E, como o tempo não cessa
de passar, as cicatrizes vão se fechar, o amadurecimento se consolidar, novos
desafios virão, e esse será mais um capítulo de uma estória. De amor.
Aos meus e minhas, de perto e de longe, que estiveram comigo
de uma forma ou de outra e só por isso estou aqui, hoje, a gratidão é imensa.
Feliz aniversário, e muitos anos de vida! Parabéns pra nós.