Dia da mulher.
Mais do que nunca quem é mulher (e consciente) não tem muitos motivos para celebrar um dia como o de hoje. Avançamos, e gratidão profunda às que vieram antes de nós e batalharam tanto por isso, por vezes às custas de suas vidas, mas ainda há tanto a alcançar. E não se trata de nada além do básico o que exigimos, como igualdade de oportunidades e direitos, reconhecimento, respeito. É inacreditável ter que seguir clamando.
A gente gosta de presentes, mas não dá para morrer de amores enquanto ainda se morre de medo, e literalmente. Nenhuma é realmente livre enquanto tantas ainda sofrem violências de todas as ordens, física, moral, psicológica. No fundo, todas sofremos algum tipo de violência com certa regularidade.
Especialmente nesse momento, nesse país, nesse sistema, é delicado ser mulher. Interessante, ser mulher é delicado e lindo, e potente, mas também é delicadamente tenso ser uma. O exercício de poder muitas vezes é travestido de cuidado, de afeto, e assim somos mantidas submetidas, nos manipulam e oprimem. Representamos perigo justamente por toda a potência que nos constitui, nós capazes de nos reinventarmos inúmeras vezes, recriar mundos, gestar e parir as soluções do mundo, além dos seres.
Queremos ser cuidadas, claro que somos pró-gentileza, mas não às custas de nossa liberdade. Estamos atentas! E estamos exaustas de ter que provar nossa competência a todo momento e em tudo o que fazemos apenas para sermos consideradas suficientemente aptas. Tripla jornada, mas sem deixar de ser bela, recatada e do lar. Nem envelhecer em paz a gente pode, envelhecer é fracassar.
Falando especificamente desse país, todos, homens e mulheres, sofremos os efeitos de um governo genocida, misógino e insensível, que fala “chega de frescura e mimimi” enquanto mais de 265 mil pessoas morreram (e por incompetência na gestão da crise). Como ficar feliz num cenário desse?
Uma amiga perdeu um amigo de 32 anos no último sábado, entubado, e hoje me disse que só pensava no título do meu livro, Não se acostume com a vida. Esse tesouro, ao mesmo tempo frágil e fantástico, a vida, nessa necropolítica em vigor vale quase nada. Imagina então se for a de uma mulher.
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